Micos de Linguagem

Pérolas do dia a dia Pérolas do dia a dia

Neste módulo, você conhece algumas dificuldades da língua portuguesa que acarretam erros chamados vícios de linguagem.

Para começar, acompanhe exemplos de pessoas que atropelaram a gramática no Twitter. Esses casos estão listados no perfil @NaoAoConcerteza, que está sempre atento a esses micos.

Na sequência, são apresentadas as pérolas de vocabulário encontradas na correção de redações do vestibular da PUC.


  • (R7. Perfil no Twitter faz zoeira com erros de português (texto e imagens). Acesse.)

  • (R7. Perfil no Twitter faz zoeira com erros de português (texto e imagens). Acesse.)

  • (R7. Perfil no Twitter faz zoeira com erros de português (texto e imagens). Acesse.)

  • concerteza
    com certeza
    saber lhe dar
    saber lidar
    diguena
    digna
    “O Brasil é um país que sê lê muito pouco."
    “Existem dois tipos de linguagem, a culta e a normal."
    “A língua portuguesa é essencial para todo ser humano."
    impetulância
    palavra inventada
    analfabetização
    palavra inventada
    compreendimento
    palavra inventada
    (AUTORIA DESCONHECIDA. Pérolas do vestibular da PUC - Assassinando a língua portuguesa. Acesse.)

Anterior Próximo

Barbarismo Barbarismo

É o tipo de mico que atenta contra a forma e o significado de palavras e expressões. Alguns exemplos:


  • Advinhar

    Adivinhar

    Ascenção

    Ascensão

    Apropiado

    Apropriado

    Beneficiente

    Beneficente

    Concerteza

    Com certeza

    Derrepente

    De repente

    Dica

    Para livrar-se deste mico de linguagem, pratique o exercício da leitura e da escrita para saber a grafia correta das palavras e como funciona a acentuação gráfica.
  • Entenda as diferenças com exemplos de palavras empregadas corretamente:


    A fim (finalidade de/com vontade de) Afim (igual, semelhante)
    Eu estou a fim de você. História e Geografia são disciplinas afins.
    A ver (que ver) Haver (existir)
    Isso não tem nada a ver comigo. Deve haver uma maneira de resolver isso.
    De encontro a (contra) Ao encontro de (na direção de, de acordo com)
    Ele foi de encontro aos meus interesses. O candidato foi ao encontro das expectativas da empresa.
    Ao invés de (ao contrário de) Em vez de (no lugar de)
    Eu prefiro calor ao invés do frio. Vamos ao cinema em vez do parque?
    Descrição (descrever, detalhar) Discrição (ser discreto)
    Fizemos uma descrição daquele local paradisíaco. O ambiente de trabalho requer discrição.
    Onde (em que lugar) Aonde (para onde)
    Eu nunca sei onde deixo meus óculos. Aonde nós vamos no fim de semana?
    Mal (contrário de bem) Mau (contrário de bom)
    Passei mal ontem à noite. O homem não é mau.
    Mas (porém, contudo, entretanto) Mais (em maior quantidade, preferencialmente)
    Eu não estava bem, mas vim por sua causa. Eu vim mais por sua causa, porque não estava bem.
    Conserto (reparo) Concerto (execução de obra musical)
    O conserto do carro ficou muito caro. Vamos assistir a um concerto esta noite.

    Dica

    Para evitar esses micos, conheça bem as classes de palavras (substantivos, adjetivos, advérbios, verbos etc.) e entenda a função que elas desempenham nos textos.

    Crie o hábito de utilizar o dicionário para esclarecer dúvidas com relação ao sentido das expressões.
  • Este mico é cometido principalmente quando há exagero na quantidade ou quando há palavra correspondente na língua portuguesa:


    O empresário brasileiro não demite mais, faz um “downsizing”, ou redimensionamento para baixo, em sua empresa. O empregado pode dizer em casa que não perdeu o emprego, foi downsizeado, e ainda impressionar os vizinhos.

    (VERISSIMO, Luis Fernando. O Estado de S. Paulo, 12 de outubro de 1997. In: MEC/INEP. Encceja, s/d.)

    Dica

    Fique atento às situações de comunicação que permitem o uso de palavras estrangeiras.

    Às vezes, o estrangeirismo pode fazer parte da linguagem técnica de um grupo profissional e, por isso, não é considerado um vício de linguagem. Mas empregá-lo de forma exagerada ou fora de contexto pode prejudicar a comunicação e dar impressão de que você não domina a própria língua.

Construção alheia à norma culta Construção alheia à norma culta

Solecismo é o nome dado à inadequação de concordância, regência ou colocação, isto é, de sintaxe. Alguns exemplos:


    • Verbo “fazer” indicando tempo é impessoal.

      Fazem dois anos.

      Faz dois anos.

      “Haver”, no sentido de “existir”, também é impessoal, invariável.

      Houveram muitos acidentes.

      Houve muitos acidentes.

      No exemplo abaixo, “As seguintes alterações” é o sujeito com o qual o verbo deve concordar.

      Fica estabelecido as seguintes alterações.

      Ficam estabelecidas as seguintes alterações.

      O verbo concorda com a expressão numérica.

      Já é 8 horas.

      Já são 8 horas.

    • “Meio” (mais ou menos) é advérbio, não varia. “Meia”, numeral, significa “metade”.

      Ela era meia louca.

      Ela era meio louca.

      Pronomes relativos “o/a qual”, “os/as quais” devem concordar em gênero e número com o nome a que se referem e apresentar a preposição exigida pelo verbo, se necessário.

      Esta é a loja o qual lhe falei.

      Esta é a loja da qual lhe falei.

    • “O grama” (unidade de medida de massa) é substantivo masculino.

      Comprei trezentas gramas de castanha.

      Comprei trezentos gramas de castanha.

      “Mesmo” com o sentido de “próprio” deve ser flexionado.

      Ela mesmo pintou o móvel.

      Ela mesma pintou o móvel.

      A palavra “grau” concorda com o numeral a que se refere.

      Os termômetros marcaram zero graus.

      Os termômetros marcaram zero grau.

      Expressão “meio dia e meia” significa “meio dia e meia hora”.

      Meio dia e meio.

      Meio dia e meia.

    • A conjugação do verbo “desfazer” na 3ª pessoa do singular do pretérito imperfeito do subjuntivo é “desfizer”, assim como “vir = vier”, “manter = mantiver”, “propor = propuser” etc.

      Se você desfazer o compromisso, vai ter problemas.

      Se você desfizer o compromisso, vai ter problemas.

      A conjugação do verbo “ir” no futuro do subjuntivo é: “for, fores, for, formos, fordes, foram”.

      Quando eu ir até lá, entrego a sua encomenda.

      Quando eu for até lá, entrego a sua encomenda.

    Anterior Próximo

    Dica

    Para evitar este mico, conheça as regras básicas de concordância nominal e verbal e saiba reconhecer os termos que concordam entre si nas orações, mesmo que estejam distantes uns dos outros ou na ordem inversa.
  • Prefere-se uma coisa a outra.

    Preferia ir do que ficar.

    Preferia ir a ficar.

    Verbos de movimento exigem “a” e não “em”.

    Chegou em São Paulo.

    Chegou a São Paulo.

    No sentido de “ter como consequência”, “acarretar”, “implicar” rejeita preposição.

    Sua decisão implicou em prejuízos.

    Sua decisão implicou prejuízos.

    A preposição regida pelo verbo (gosta de) deve acompanhar o pronome relativo nos períodos compostos.

    Preparei o prato que ele gosta.

    Preparei o prato de que ele mais gosta.

    Dica

    Evite este mico: conheça os casos mais comuns de regência nominal e verbal, e habitue-se a fazer consultas no dicionário para verificar a regência formal dos verbos e nomes.
  • Nas situações formais de fala e escrita, não se inicia frase com pronome oblíquo.

    Me faça um favor!

    Faça-me um favor!

    Os pronomes retos não desempenham a função de objeto.

    Eu vi ela na televisão.

    Eu a vi na televisão.

    Depois de preposição, usa-se “mim” ou “ti”.

    Entre eu e você.

    Entre mim e você.

    O pronome “lhe” tem a função de objeto indireto, por isso só pode ser usado com verbos transitivo indiretos.

    Nunca lhe vi.

    Nunca o vi.

    Com verbos reflexivos, deve-se usar o pronome “me” (a mim mesmo).

    Eu mim machuquei com a tesoura.

    Eu me machuquei com a tesoura.

    Dica

    Entendendo a função que os pronomes pessoais retos e oblíquos desempenham nas orações e conhecendo os casos em que a colocação pronominal é diferente nas situações formais e informais, você consegue evitar este tipo de mico de linguagem.

Falta de variedade vocabular Falta de variedade vocabular

Conhecido como plebeísmo, este mico de linguagem é difícil de ser percebido porque costuma estar “disfarçado de norma culta”. O uso dele remete à falta de instrução, à pobreza de vocabulário e imprecisão da linguagem.

Alguns autores consideram os plebeísmos como um tipo de barbarismo. Conheça quais são:


Lugares-comuns


Conhecidos também como clichês e chavões, os lugares-comuns são frases e expressões que se banalizam por ser muito repetidas, sem originalidade.

Alguns casos são clássicos; outros (os modismos) se intensificam em um dado momento por influência, principalmente, dos meios de comunicação.

01
Palavras e expressões corretas, porém banalizadas pelo uso:
  • Abrir com chave de ouro
  • Acertar os ponteiros
  • Atingir em cheio
  • Bola da vez
02
Não existem nos dicionários (neologismos), mas viraram moda:
  • Disponibilizar (oferecer)
  • Oportunizar (dar oportunidade)
  • Ressignificar (dar novo sentido a)
  • Jogabilidade (facilidade de jogar)

Há também palavras e expressões contraditórias ou desviadas de seu sentido original, tornando-se impróprias à situação de comunicação:


  • São características que agregam valor à marca.

    Expressão com o sentido de “juntar benefícios”, prefira “valorizar”.
    Evento a nível internacional.

    Abandone a expressão “a nível”/“a nível de".
    A inscrição pode ser feita através do site.

    Através significa “transversalmente”, “de atravessado”. Quando não tiver esse sentido, não utilize. Prefira “pelo”, “por meio de”, “no”.
    O grupo como um todo estava presente.

    Com o sentido de “na totalidade”, “inteiro”, prefira “todo o”.
  • Certamente o produto conquistará o consumidor final.

    Existe consumidor inicial ou medial?
    O time já contabilizou nove derrotas.

    Prefira “reunir”, “somar”, “totalizar”.
    Sinto que meu negócio vai decolar no próximo ano.

    Prefira “desenvolver-se”.
  • O comentário do assessor detonou uma crise no ministério.

    Prefira desencadeou, provocou.
    Chegamos atrasados em função do/por conta do trânsito.

    Prefira “por causa de”.
    Eu gostaria de fazer uma colocação.

    Utilize “falar”, “perguntar”, “interpelar”, “discordar”.
  • Tentamos telefonar para o aluno, mas o mesmo não foi encontrado.

    O uso de “o mesmo” e “a mesma” com função de pronome pessoal, equivalente a “ele”/“ela” é proibido.
    Ela não sinalizou para mim que estava passando mal.

    “Sinalizar” refere-se ao uso de sinais, marcas, inscrições etc. Se não tiver esse sentido, prefira “informar”, “comunicar”.
    Os preços sofreram um aumento considerável.

    “Sofrer”, no sentido de “receber” e sinônimos, (sofrer aumento, sofrer manutenção, sofrer cuidados etc.) é inapropriado, pois não se “sofre” tais coisas.

Anterior Próximo


Dica


Não há como evitar completamente os lugares-comuns, mas é preciso tomar cuidado com os casos de palavras que têm seu sentido desvirtuado, ganhando significado impróprio ou inadequado.

Para ajudá-lo, use palavras com precisão e diversifique o vocabulário com sinônimos.

Hipercorreção ou ultracorreção


Trata-se do famoso “trocar o certo pelo errado”. A norma culta, às vezes, pode soar mal para um falante e ele acaba utilizando outra forma de falar que, no fim, não é adequada. Acompanhe alguns exemplos.

  • Na mesma época, fui convidado a dar uma palestra numa cidade no interior da Bahia. A pessoa que me convidava escreveu: “você estar livre para discorrer o tema”.
    (...)
    Ao responder ao convite para a palestra, chamei a atenção da pessoa, que trabalha na Secretaria de Educação do município, para o uso que ela fazia da forma estar no lugar de está. Curiosamente, na mensagem seguinte, ela agradeceu minha observação: “Obrigado, professor, já corrigir”. (...)

    (BAGNO, Marcos. Eu não pedir para você lê? In: Carta Fundamental, nº 36, mar. 2012. São Paulo: Confiança, 2012.p. 48-49. Grifos nossos)
  • (...) o emprego de “ter” é considerado um erro no lugar de “haver”. A escola ensina que se deve dizer “havia livros” e não “tinha livros” (...) A generalização equivocada acaba sendo: “Evite o emprego de ‘ter’”. E lá vem então o verbo “possuir”, até em casos como “eu ainda possuo minha avó.”

    (POSSENTI, Sírio. O mesmo e outros equívocos. In: Carta na escola, ed. 63, fev. 2012. São Paulo: Confiança, 2012. Págs. 16-17. Grifo nosso.)

Anterior Próximo


Dica


Para falar e escrever com clareza e precisão, conheça as regras de uso da língua, pratique a leitura e escrita de textos variados, além de criar o hábito de consultar o dicionário.

Sonoridade das frases e orações Sonoridade das frases e orações

Há casos em que as construções estão de acordo com as regras de ortografia, acentuação e sintaxe, mas, às vezes, é bom evitá-las para tornar os textos mais elegantes.


  • Cacófato

    Sequência de palavras que provoca som de uma expressão ridícula, inconveniente ou obscena.

    “(…) não existe nenhuma má intenção acerca dela.”

    O aeroporto está fechado por razões de segurança.

    Ganharemos muito por cada encomenda. Ela tinha muito talento.

    Maria nunca ganha.

    Eco

    Quando a escolha das palavras provoca rima nos textos em prosa.

    Somente de repente essa ideia me veio à mente.

    A união da população é a solução.

  • Hiato

    Quando o acúmulo de vogais provoca um efeito sonoro desagradável.

    Ó o auê aí ó!

    O avião foi ao alto.

    Colisão

    Quando ocorre a repetição de consoantes nas frases.

    Peguei o papel para Paula pintar.

    Assumimos nossa insegurança.

Anterior Próximo


Dica


Crie o hábito de reler o que escreve. Assim, você avalia o próprio texto, faz correções e substituições necessárias, e evita estes tipos de mico de linguagem.

Além disso, vale saber que o uso de cacófato, eco e hiato não são recomendados no dia a dia em textos informativos, argumentativos, científicos etc. Apenas como recursos de estilo em textos literários e poéticos, como a rima e a aliteração.

Sentido do textodia Sentido do texto

Conheça os micos que podem influenciar a interpretação de texto e deixar o conteúdo repetitivo:

É importante saber É importante saber

Agora, conheça as regras de duas situações comuns que costumam gerar dúvida no dia a dia: